Olá, membros da comunidade do SOS 2012!
Hoje eu expliquei para as crianças o que está acontecendo. Precisei de um pouco mais de tempo para desenvolver um método que eles fossem entender. A diretora tinha me pedido na semana passada para começar a ensinar para eles algumas letras do alfabeto gradualmente, pois isso facilitaria a aprendizagem completa da leitura que começará só no ano que vem. No entanto, como vocês podem imaginar, eu tinha assuntos mais importantes a tratar e ignorei as ordens da diretoria. As crianças não precisam aprender a ler, isso não é importante. Acho que todos aqui fariam o mesmo, não? Eu havia escolhido hoje para contar e não podia adiar nem mais meia hora, pois sei que é urgente. Eu acumulhei muitas informações nesses dois meses e devo repassar cada sílaba que aprendi.
Eu comecei desenhando a casa de cada um deles na lousa e, em seguida, vários asteróides que eles já aprenderam o que é. Um para cada duas casas. Os asteróides caem (eu usei o apagador na hora de simbolizar a destruição das residências). Nós temos um ursinho rosa de pelúcia na sala, o "Carlinhos", que é um dos Ursinhos Carinhosos. Todo mundo brinca com ele e nós o consideramos nosso mascote.
Acho que as crianças são muito apegadas a ele, por isso ele foi perfeito na hora de explicar. Eu disse que ele simbolizaria as pessoas dentro das casas e rasguei a barriga dele com umas varetas bem afiadas. Tinha muito algodão que eu joguei direto no lixo, e substituí por uma mancha de tinta guache vermelha (que tinha deixado preparada). Pus o Carlinhos na mesa da frente onde todos podiam vê-lo. Acho que a maioria das crianças entendeu depois que eu expliquei melhor, mas duas, o Danilinho e a Larissa, começaram a chorar. Dei um pouco de água com açúcar, mas não tirei o Carlinhos da frente, pois acho indispensável que eles entendam a mensagem. De hoje em diante, vou dar todas as aulas com ele ali, mantendo a tinta fresca para que pinguem algumas gotas uma vez ou outra. Estou fazendo tudo isso para o bem das crianças, pois só assim, dessa maneira um pouco radical, elas nunca esquecerão essa emergência.
No fim, coloquei na lancheira de cada um, um panfleto sobre 2012 para avisar aos pais também. Apesar de morarem na Favela do Taqueril e serem pobres, acredito na igualdade de acesso à informação. A triste verdade é que essas famílias não sobreviverão, pois não possuem o capital de uma pessoa como Roberto Justus, por exemplo, para construir os seus próprios abrigos anti-tempestade solar. Entretanto, merecem saber o que se passa. A reação deles também ajudará a espalhar a notícia na camada mais miserável dessa nossa sociedade tão estratificada.
domingo, 26 de julho de 2009
Panfletos nas lancheiras
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